quinta-feira, 29 de novembro de 2012

a Princesa Severina e as lágrimas do REi Sol




Severina sentia a água debaixo dos pés pequenos e ria. Pela primeira  vez , sentia a emoção da água na pele queimada de sol e achou a sensação de pele molhada uma frescura de gostoso. Severina olhava os pezinhos  na água adormecida nas poças de terra molhada e achava que a água fosse viva, a brincar de escorregar entre seus dedinhos, a fazer cócegas na sola dos pés, a deslizar na pele em gotas tão pequenas. Severina estava encantada com a água caída do céu em grandes lágrimas de chuva. Nunca tinha visto tantas lágrimas assim, nem no rosto da mamãe que vivia olhando o céu azul do Rei Sol. Severina pulava de poça em poça, a desenhar na terra molhada suas pequenas pegadas, queria esparramar pegadas de barro por todos os cantos do MUNDO! Fazer desenhos de água nas paredes da sua casinha branca. Dar banho no cachorro Banzé, mas talvez ele não achasse essa ideia assim muito boa, afinal de contas, Banzé só tomava banho de poeira...e estava muito assustado com essa água toda caída do céu, mas brincava, porque adorava ficar perto de Severina. 
Severina achava a chuva um mistério, como tantas gotinhas nasciam assim? Imaginou que elas fossem as lágrimas do Rei Sol, talvez ele estivesse triste.Talvez estivesse apaixonado de amor. Mas esse já é outro mistério que a Severina não quer resolver.  Ela só  quer brincar de ser feliz !


( ilustração - Simone Matias )


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

o diário da Rainha Margô Maluca





acordei com uma saudade do ontem, de um ontem que fica lá longe na memória, um ontem que não é o dia que dormiu e acordou hoje, é um ontem de outros tempos. Não sei explicar as coisas direito, nunca soube, sou assim tão atrapalhada para explicar... será que é por isso sou chamada de Rainha Margô Maluca? As minhas ideias coloridas, minhas músicas favoritas, tudo era motivo de risadas no meu reino e um dia inventei de andar o mundo e atravessar a ponte, enfiei meus sapatinhos vermelhos dentro da lama, nasceram calos enormes nos meus pés, o vestido rasgou-se em véus. Meu cabelo revoltou-se. Mas era tudo aventura, era ainda tudo descoberta. Encontrei outro castelo cheio de crianças e elas adoraram minhas ideias e não me acharam maluca, me disseram que queriam também encontrar essas novidades todas que imagino. Mas hoje acordei com essa saudade de um ontem de longe, do cheiro  do bolo, do vento bagunceiro, das flores do meu jardim. Mas...ainda nem descobri as coisas maravilhosas desse mundo! Minhas descobertas ainda nem entraram na minha bolsa vermelha!

Ainda não posso voltar para o castelo. Meu sétimo sentido diz que ainda tenho muito a descobrir! então vou escrever um diário : AS Aventuras da Rainha Margô Maluca ! Minhas ideias estão aparecendo e a saudade do ontem vai adormecer logo, logo!

Adoro ideias!


( ilustração - Alexandra Petracchi )

terça-feira, 31 de julho de 2012

eu, rainha Margô Maluca



Eu realmente não entendo porque as pessoas não se deixam ficar malucas de vez em quando ou por que elas acham minhas ideias malucas! Se a caixa de lápis de cor tem tantas cores, porque usar apenas uma ? Isso e outras coisas eu não entendo...Então abri as janelas do meu quarto e deixei o vento entrar, como sempre faz nas manhãs de todos os dias. Entrou já bagunçando o meu lindo cabelo, mas isso não tem problema, porque meu cabelo sempre fica lindo! E olhei as flores do jardim e elas sempre das mesmas cores, coitadinhas, talvez nem saibam que existam outras cores! E me deu uma ideia assim : vou buscar outras cores, outros brilhos! E simplesmente saí. Linda e maravilhosa. E coloquei meus lindos sapatos vermelhos de amor, meu lindo vestido de veludo. E fui, atravessei a ponte e entrei num mundo que nem me lembrava que existia! O sol tinha acabado de nascer e o céu ainda estava clareando, mas eu já estava toda iluminada de ideias! E fui andando, andando...e confesso : aqueles benditos sapatos não eram assim muito apropriados para uma caminhada na floresta, mas eu só tenho sapatos assim! Senti meus pezinhos gritando lá dentro. Pobrezinhos. Enquanto eu os salvava dos sapatos vermelhos eu vi um senhorzinho e ele me olhava como se tivesse visto um mistério! Eu sorri e ele sorriu também. Aquele sorriso me encheu o coração! E falei das minhas ideias maravilhosas e de novo aquela cara de espanto que sempre vejo. Mas ele era muito bonzinho e quando viu meus pezinhos cheios de bolhas me ofereceu uma pousada no seu castelo, o que aceitei de bom grado! Afinal já estava bem cansada...Ah! E foi uma noite maravilhosa! E tinha crianças lá, os netos do senhorzinho, e elas adoraram minhas ideias! As crianças sempre me entendem! Acho que temos a mesma alma...


( ilustração Rebeca Dautremer - http://www.rebeccadautremer.com/ )

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Eu vi a Rainha Margô Maluca!



A primeira vez que vi sapatos assim vermelhos foi quando uma certa Rainha Margô Maluca pisou meu reino com os cabelos já descacheados de vento, a roupa vermelha como um coração vivo me aparece na lembrança como uma única coisa que nunca esquecerei naquele dia de inverno. O rosto de uma brancura que parecia neve e uma risada que parecia o verão. Eu , um senhor de certa idade avançada e lembranças antigas achei aquela rainha Margô um pouco maluca, assim como o nome dela. Disse que queria descobrir o mundo que existia depois da ponte, que estava procurando animais de outras estampas , passarinhos que cantassem outras músicas, flores de cores brilhantes. Imagina, eu jamais tive dessas curiosidades e se eu achar desses bichos estranhos vou é embora daqui! Mas a Rainha Margô Maluca tinha a certeza que esse mundo existia e falou com tanto amor que até comecei a acreditar nas palavras dela! Essa rainha encanta a gente com as palavras, elas vão saindo assim aos montes e de uma vez de sua boca sorridente. O sol já estava se despedindo e eu só esperando ela perguntar se as estrelas dançavam, porque já estava aprendendo o jeito dela. Mas só sorriu bonito e disse  que adorava o céu estrelado. Quando ela chegou no meu simples castelo as crianças a adoraram, os meus netos. Foi uma noite de muitas histórias!




( ilustração Anja Klaus http://anjaklauss.ultra-book.com/portfolio )

sábado, 9 de junho de 2012

A viagem da Rainha Margô Maluca - parte I



Rainha Margô Maluca abriu a janela e deixou o vento entrar. Suspirou. E sonhou com outras paisagens, outras ruas e outros risos.E imaginou um arco-íris a nascer além da ponte. Imaginou bichos com estampas diferentes. Imaginou um mundo mais colorido que o seu. Imaginou ainda mais um monte de coisas.Porque imaginar não era um problema para a rainha. Um mundo de coisas que não existiam no seu reino (e será que existiam em outros reinos?). Rainha Margô Maluca andava entediada de ver a mesma campina verde de flores estranhas e tristes. As mesmas vozes, os mesmos pássaros cantando as mesmas músicas. Os dias sempre iguais.  E decidiu viajar de férias . Decidiu assim sozinha e não contou nada pra ninguém. Era seu segredo secreto inventado de última hora. A ideia iluminou seu espírito , iluminou seu coração. E assim toda iluminada saiu pelas portas dos fundos do castelo. O vento a soprar canções nos seus ouvidos e a espalhar seu cabelo de algodão. Saiu com seu sempre vestido vermelho de veludo e seus sapatos de coração. Não levou mais nada, só a vontade de conhecer outros horizontes . Pensou até que ninguém sentiria a sua falta. Imagina, quem não sentiria a falta da rainha? E Rainha Margô Maluca sem um pingo de maluquice saiu toda feliz de curiosidade. O que teria do outro lado da ponte? Será que ela encontraria o mundo imaginado por ela? Como seria a vida dos seus súditos sem a risada da Rainha Margô Maluca? Enquanto essas perguntas voavam pelo ar, ela ia andando, andando, cantando e imaginando esse mundo colorido.Será que ele existia? Será?






( ilustração Mariana Kalacheva - http://kalacheva.com/en/ )

terça-feira, 15 de maio de 2012

desenhos de água




Eu desenhei pegadas no chão. Desenhei com água enquanto mamãe lavava a cozinha. As minhas pegadas de água andavam por toda a casa. E depois levei minhas pegadas para o quintal e lá elas desapareciam debaixo do sol. Iam sumindo assim devagarinho e eu ia lá na cozinha e molhava meus pezinhos e voltava a desenhar pegadas no quintal. ERa bem divertido e mesmo com mamãe  pedindo para parar com a brincadeira eu continuava. Também desenhava com a ponta do dedo desenhos de água, e tudo ia sumindo. Acho que o sol estava comendo meus desenhos , então eu desenhava bolos bem grandes, de casamento que são os mais gostosos de todos, e desenhava bichinhos também. Aprendi a desenhar gatinho e cachorrinho. Faz um círculo grande e em cima um pequeno, que é a cabeça, depois as patinhas, as orelhinhas, os olhinhos, o bigodinnho e...o rabinho!! Mas o sol andava tão fominha que eu nem conseguia terminar o risco e ele ia comendo antes de eu terminar! Queria mostrar minha arte para mamãe, mas quando ela foi ao quintal já não tinha nem um desenho...o sol comeu tudo! Mamãe deu risada e disse que bem sabia a arte que eu estava fazendo. Mamãe também tinha o poder da adivinhação? E depois que o sol comeu bastante e estava de barriga cheia,ele foi dormir. E eu também fui e sonhei a noite toda com meus desenhos de água.

( ilustração Nicolas Gouncy )

terça-feira, 10 de abril de 2012

o liVRO da caPa verMElha




A vovó Filomena anda com umas ideias diferentes ultimamente e acho que foi depois que ela ficou trancada na biblioteca. Estava ela lá limpando as estantes, tirando o pó adormecido dos livros, acarinhando suas páginas e de repente veio o vento e pá fechou a porta da biblioteca ,a chave do lado de fora caiu e foi parar debaixo do sofá. Ficou trancada na biblioteca e ninguém sabia que ela estava lá, só o vento... e pensa que ela se chateou ?  ou bateu desesperada na porta ? ou fez escândalo para tirarem-na dali ? Não! Ali era o verdadeiro paraíso! Colocou a música de seus discos de vinil para tocar e começou a viajar nas páginas dos livros, a continuar sua limpeza cuidadosa quando achou um livro de capa vermelha linda que a chamava  venha, venha , vovó pegou e quando abriu que surpresa : era seu álbum de casamento! Há tanto tempo ali guardado ela nem se lembrava mais! Ela de vestido branco de princesa e um sorriso apaixonado, o vovô Petrônio de terno e cara de bobo atrapalhado. Ela com o vestido a arrastar no chão , a dançar a valsa , ele com a gravata a amarrar o pescoço e a desencontrar os pés na dança. Ela sem desistir de sorrir, ele sem esquecer de dizer eu te amo. Dançavam no salão enquanto a música tocava e o vovô gritava . Gritava? Vovó Filomena despertou das lembranças com os gritos do vovô Petrônio, como se ela estivesse em grandes apuros. Abriram a porta e encontraram vovó Filomena com cara de felicidade e acreditem depois que saiu de lá anda com vontade de dançar valsas, a comemorar o encontro com vovô Petrônio e a dizer eu te amo a toda hora e pra todo mundo. Acho que a biblioteca deixa a gente maluco.

terça-feira, 27 de março de 2012

um BaLÉ engRAçaDO


O vento levou o lenço colorido da vovó Filomena. O lenço rodopiava no ar, se contorcia , se espalhava ,  abria suas estampas no ar. O vento brincava com o tecido fino do lenço colorido da vovó Filomena, dançava com ele lá em cima, viajava pelos galhos das árvores, nos telhados da casa , pelo sono do cachorro Filósofo. O lenço voava com sua cor amarela e flores vermelhas, brincando com a vovó que ficava na ponta dos pés tentando pegá-lo com os dedos finos esticados no alto. Vovô Petrônio ria da brincadeira do vento e do balé desajeitado da vovó Filomena que de cabelos soltos e bagunçados não achava graça nenhuma mas logo também começou a rir, porque o seu lenço já não estava mais sozinho: agora estava acompanhado do chapéu do vovô Petrônio, os dois dançavam juntos : o chapéu e o lenço. O chapéu  dava piruetas fantásticas no ar, vovô Petrônio  tentava pegá-lo e segurando o cabo da vassoura tentava pescá-lo , mas o chapéu travesso sempre fugia. O vento também trouxe a música dos discos empoeirados da vovó Filomena, era o que faltava para aquele balé engraçado ficar completo. A música tocava embalando a dança do lenço e do chapéu . Embalava a dança engraçada da vovó Filomena e do vovô Petrônio. Enquanto isso o cachorro Filósofo sonhava.


( ilustração Rebecca Dautremer )

segunda-feira, 12 de março de 2012

ela É o meu SOl


Há dias o vento não brinca , as folhas caem moles no chão quente, a brisa tão delicada não consegue afastar o calor que  parece cozinhar a carne da gente, e lembrei daqueles filmes onde os índios cozinhavam os brancos , bem, tentavam porque eles sempre conseguiam fugir e eu nunca vi como era preparado aquele cozido...Os dias estavam  muito quentes, a vovó Filomena prendia os cabelos em lenços coloridos, cada dia usava um, seus cabelos ficavam presos no alto da cabeça parecendo um bolo de aniversário, dizia que era para o vento soprar gostoso na nuca, e eu achava engraçado essa frase da vovó, vovô Petrônio usava as calças arregaçadas, deixando as canelas finas à mostra, os pés ficavam esparramados nas chinelas de borracha, suava em bicas mas não usava lenços coloridos para prender os cabelos, ainda bem, senão acharia muito estranho, Lili , minha irmãzinha , ficava debaixo de seu guarda-chuva mágico e dizia que ali o sol não seria convidado, ficaria sempre pra fora do seu esconderijo, sem contar que ali todos ficavam transparentes, esse é o poder mágico do guarda-chuva da Lili, mas já fiquei ali e ainda não sei como é ser transparente...mamãe ainda consegue me enxergar para dar bronca. Nesses dias de sol reinante nem papagaio Funéreo canta o fim do mundo de tão desanimado que fica, Bartolomeu , o gato , só falta tomar banho de chuveiro e o cachorro Filósofo continua dormindo, como sempre...assim como meu coração que sempre que está perto de Anita  desperta, estremece , amolece. Ela é o meu sol.


( ilustração Nicolas Gouny )

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

o Gato BartOlomEu


Bartolomeu era o gato aventureiro da vovó Filomena. Sujo da alma ás patas amarelas , ele não só detestava banho como também não gostava das coisas muito arrumadas, se assim estivessem ele mesmo as bagunçaria : nada que um rasgãozinho na cortina, uns arranhõezinhos nas almofadas, e claro, deixar suas patinhas marcadas no sofá, na cama, no chão recém-lavado da cozinha... Bartolomeu se achava o galã único da casa, embora seus pelos amarelos fossem encardidos, seus bigodes quebrados e uma das orelhas faltando um pedacinho, de tanto a vovó Filomena chamá-lo de lindo ele se convenceu de que era o único, o mais maravilhoso, o mais perfeito de todos os felinos. Bartolomeu adorava sair em suas aventuras noturnas, e na maioria das vezes voltava ainda mais estropiado. Vovó Filomena dava muitas broncas, mas logo se compadecia dele e lhe enchia de esparadrapos. Certa vez, ficou parecendo um gato-múmia de tão enfaixado que estava.
Naquela semana ele foi a piada no bairro, nada que abalasse sua fama de aventureiro. Bartolomeu adorava desafiar os outros gatos e atrapalhar o sono do cachorro Filósofo , que  passava as tardes dormindo debaixo das sombras das árvores e só latia desesperado quando Funéreo, o papagaio, anunciava o fim do mundo, aliás, ele era o eterno alvo de Bartolomeu. Mas Funéreo era mais esperto e corajoso que Filósofo e sempre espantava o gato valente com seu escândalo e suas bicadas doloridas. Mas agora Bartolomeu descansa, porque logo que as estrelas chegarem ele partirá em busca de mais aventuras!



( ilustração Nicolas Gouny )

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

o Guarda-chuva da Lili


Lili queria um guarda-chuva de bolinhas. Um guarda-chuva de bolinhas igual do elefante Godofredo.Um guarda-chuva de bolinhas igual do elefante Godofredo e que tivesse poderes especiais. Um guarda-chuva de bolinhas igual do elefante Godofredo que tivesse poderes especiais e mudasse de cor. Um guarda-chuva de bolinhas igual do elefante Godofredo que tivesse poderes especiais , mudasse de cor e tocasse música. Um guarda-chuva de bolinhas igual do elefante Godofredo, que tivesse poderes especiais, mudasse de cor, tocasse música e fosse um esconderijo secreto também dos raios do sol. Os raios de sol, por mais que tentassem, não conseguiam entrar nesse esconderijo quase secreto, onde a música vinha da boca de uma menininha que cantava sempre a mesma música, também não mudava de cor, sempre vermelho que era e também não tinha poderes especiais e nem tinha as tão famosas bolinhas. Lili tinha o seu guarda-chuva vermelho de coração e inventou que daria a ele as famosas bolinhas e as pintou de várias cores e tamanhos e o guarda-chuva de Lili que antes era apenas vermelho de coração, era agora salpicado de pintinhas e bolinhas coloridas, e  quando Lili ficava debaixo de sua sombra ficava transparente, ninguém conseguia vê-la e então ele ganhou um poder especial  ! E só ali as gotas da chuva ficavam coloridas, só ali o sol ficava com pintinhas coloridas. O guarda-chuva da Lili era mágico !

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Papagaio Funéreo



O papagaio Funéreo era diferente de todos os outros papagaios. Não cantava em dias de sol, nem o Hino Nacional nem dos times de futebol. Ele adorava cantar nos dias de chuva e o tema não era dos mais alegres : era sobre o fim do mundo ! Vovó Filomena preferia chamá-lo de Fufu - como para espantar o agouro do nome -  mas o vovô Petrônio ,que o encontrou sozinho numa noite de chuva, o batizou de Funéreo assim que ele começou a cantar o fim do mundo. Ele devia achar isso um grande acontecimento pois cantava na maior alegria, principalmente se chovia com raios e trovões, talvez achando que o mundo ia acabar mesmo , cantava, cantava : alala ôôô o mundo acaboooouu!! Vovó Filomena vivia passando vergonha por causa do papagaio , que também aprendeu a dizer Fim dos Tempos, Fim dos Tempos!! Ele estava espantando as visitas de final de tarde.Vovô Petrônio adorava Funéreo e vivia repetindo como ele encontrou o pobre bichinho abandonado na casa onde vivia um senhor muito estranho chamado Nostradamus, que vivia vestido de preto e também tinha dessa mania de prever o fim dos tempos, foi daí que Funéreo deve ter aprendido a infeliz previsão. Mas agora vivendo naquela casinha de paredes coloridas cheia de barulhos diversos , onde o Sr Silêncio jamais chegaria, ele aprenderá  frases mais felizes e engraçadas, porque inspiração para isso não faltará!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O silêncio Não Existe


O silêncio nunca existiu naquela casa , mesmo quando todos dormiam ou quando o vento descansava das suas brincadeiras e deixava as árvores repousarem em paz, mesmo quando a música calava e os bichos dormiam, nunca existia silêncio naquela casa.Sempre tinha uma gota a cair na pia, o arrastar dos móveis no chão, a voz alta do vovô Petrônio,  o papagaio Funéreo que cantava a altos brados que o mundo ia acabar, a voz baixinha da vovó Filomena que falava sozinha mas nunca, jamais acreditava nisso, dizia que os netos estavam inventando coisas. O silêncio passava longe daquela casa de paredes brancas por fora e coloridas por dentro, passava pela calçada e jamais fazia uma visita naquela casa de sons variados. Vovô Petrônio dizia que o silêncio não existia, mesmo se ficássemos sozinhos num quarto com as janelas fechadas, o silêncio não existiria porque se ouviria as batidas do próprio coração. Mas assim que Anita começou a tocar seus dedos fininhos no piano, uma música muito suave dançava no ar e então o barulho por um momento dormiu, deixando a música de Anita passear na sala  e até o papagaio Funéreo parou de cantar o fim do mundo, também ele queria ouvir a música,  quase podia-se acreditar que o Sr Silêncio enfim entrara naquela casa , mas Beto sabia que ele não estava lá, porque ouvia o barulho do próprio coração a dançar dentro dele.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

As aventuras da vovó Filomena na cidade Grande

Vovó Filomena saiu de férias, com seu vestidinho de flores coloridas, saiu de chinelas e cabelo preso de coquinho, colocou na pequena mala apenas o que achava necessário para poucos dias e foi se aventurar na cidade grande.Achou que o sol morava em todos os lugares do mundo e quando chegou passou frio com suas flores coloridas, suas pernas fininhas quase congelaram, o cabelo estava todo despenteado,parecia um espantalho! Procurou na bolsa um batonzinho e de repente, zás trás, sua bolsinha desapareceu! E aí ficou sem batonzinho vermelho e sem moedinhas. Achou aquilo um grande mistério! Haveria mágicos escondidos nas ruas da cidade grande? Deveria haver muitos pois viu uma coisa espantosa! Uma escada que se mexia! Era rolante, ouviu alguém dizer, achou aquilo incrível e lá ficou um bom tempo a olhar sem coragem de colocar os pés nos degraus que pareciam vivos, e se aquilo a engolisse? Mas num empurrão eis que lá estava em cima daquilo que parecia um verdadeiro dragão! Chegou lá embaixo com o coração nas mãos. Estava faminta e foi então que ela  viu uma galinha enorme, um monstro e quando ela viu a vovó Filomena a abraçou e começou a dançar com ela no meio da calçada. Tadinha, ficou tonta de tanto rodopiar! E vovó ficou famosa, tiraram fotos e filmaram, ganhou até almoço no restaurante da galinha gigante. Mas as saudades já nasciam e a vontade de voltar pra casa já estava chegando. E com apenas um dia , que pareceram muitos, vovó Filomena voltou com a mala cheia de novidades e histórias para contar.

( ilustração Robert Romanowicz -Tia Clara )

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

E quando Tudo fica estranho


Há um bom tempo o elefante Godofredo já não sorria, a Princesa Severina não dançava debaixo das lágrimas do Rei Sol e o Rei Garfus I e senhor Faca não enfrentavam o dragão Bife. O elefante Godofredo deu para ficar reclamando feito um velho ranzinza e acha que seu guarda-chuva de bolinhas está muito brega, que xadrez está mais na moda e que vai passar umas férias na praia pra tirar essa cor rosa da pele, quer ficar um elefante moreninho, a Princesa Severina cansou de dançar na chuva, disse que por causa da arte ficou gripada por três dias e agora está de repouso e o Rei Garfus I e o senhor Faca cansaram de lutar contra o dragão Bife e agora estão em acordo de paz com as rebeldes saladas verdes. E desde que Beto voltara com sua cartinha esmagada entre as mãos suas historinhas estão cada vez mais estranhas . Lili não está entendendo nada, mas bem que ela queria que o elefante Godofredo voltasse a sorrir, e seu irmão também . Mas isso ainda era um mistério.

( ilustração de Justine Brax )

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A primeira Carta de Amor


Assim de longe o que via era apenas Anita ouvindo as palavras de gestos grandes daquele menino sentado ao seu lado, vestido com roupas assim elegantes e finas, cabelos penteados impecavelmente, e ele fazia Anita rir e ela sempre a olhar o chão e cruzar os dedinhos finos, distraindo os olhos claros. O menino de maneiras educadas e que pelo jeito não escrevera nenhuma lista de coisas impossíveis que Anita não sabe fazer, a distraia com uma conversa cheia de gestos grandes e aéreos e ela parecia bem feliz ali, ao seu lado. O menino de roupas alinhadas era o mais novo vizinho do bairro, chegara num belo carro e estava morando na bela casa que há tempos estava vazia de risadas. Chegara e já estava ali conversando com a "sua" Anita e isso deu a Beto uma sensação estranha, uma quase dor, uma vontade de chorar ou de bater naquele arrumadinho, ainda não sabia o nome do que estava sentindo, mas era ,sim, muito desagradável e dolorido. Amarrotou com toda a força a carta e esmagara todas as palavras que tinha encontrado nos livros do vovô Petrônio. A  sua primeira carta de amor, ou de amizade, como ele teimava em dizer.

( desenho - Rebecca Dautremer )

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A Tarde mais colorida de Todas



Entraram com passos a pisar em nuvens, era a primeira vez que eles estavam ali e tudo parecia um mistério. A sala de paredes brancas era decorada com toda a delicadeza e em cima do piano havia apenas o  retrato de um rapaz muito bonito. Lili tinha a impressão de estar numa casa de bonecas e Beto sentia o aroma do chá de morango vindo da cozinha. Era a primeira vez que viam Luana sem as vestimentas negras do luto, era a primeira vez que viam as cores de seu rosto tão branquinho de olhos azuis,  a primeira vez que viam a cor de seus olhos, de um azul tão único que não se esqueceriam mais, a primeira vez que ouviam a voz dela, tão delicada e fina que as palavras pareciam pequenas formiguinhas saindo de sua boca. Ela estava linda num vestido muito leve e florido e desde que recebera a cartinha  decorada com colagens e um desenho de um elefante cor-de-rosa com um guarda-chuva de bolinhas, ela quis muito retribuir o carinho e ofereceu um chá com bolo para as crianças, o que D. Betina , a mãe de Beto e Lili, concedeu de bom coração , pois gostava da moça que era muito sozinha, na verdade ela ficou bem orgulhosa das crianças. Lili ficou encantada com o aparelho de chá de Luana , eram enfeitados com coraçõezinhos! Havia biscoitos, bolo, chá e o sorriso de Luana, que era o mais doce de todos. Então conversaram e Lili contou sobre Godofredo, a Princesa Severina , o Rei Garfus I , o senhor Faca e o Dragão Bife . E Luana passou uma tarde colorida e feliz.  A mais colorida de todas.

( ilustração Robert Romanowicz )

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Rei Garfus I e o fiel escudeiro Faca contra o Dragão Bife

O Rei Garfus I do Reino da Talherândia e seu fiel escudeiro , o senhor Faca , tinham pela frente um exército de tomates e alfaces para enfrentar, umas rodelas de cebola , uma ilha de arroz com um mar de feijão para atravessar, os rebeldes das batatas fritas que se amontoavam na ilha de arroz, e o maior de todos os inimigos : o terrível bife que se impunha sobre todo o prato, ali , majestoso e suculento. O pobre senhor Faca se sentiu acuado pelo  tamanho do inimigo, ele tão frágil no seu corpinho de plástico, mas o bravo Rei Garfus I não se abatia, segurou o enorme dragão, digo, bife enquanto o senhor Faca o fazia em picadinhos, sim, o senhor Faca era realmente muito corajoso! As  batatas fritas rebeldes logo se renderam, estavam amarelas de medo, as alfaces ainda resistiam bravamente , os tomates ainda restavam desmaiados pelo prato , digo, campo de batalha , e as cebolas, coitadas, foram totalmente ignoradas...O Rei Garfus I para comemorar o fim do terrível bife fez uma festa de arromba no Reino da Talherândia! A Rainha Colherina ficou muito feliz e orgulhosa do marido... As colherinhas e garfinhos, filhos do casal, se jogaram no sorvete e nas saladas de frutas! Por enquanto, tudo era paz no Reino da Talherândia, até o horário da próxima refeição quando o Rei Garfus I e o fiel escudeiro ,o senhor Faca, nem sabiam quais os próximos inimigos que teriam que enfrentar...


Tudo isso para incentivar a pequena Lili a comer, ela que não gostava de salada nem de bife, mas ficava tão distraída ouvindo as historinhas que Beto inventava que nem percebia quando comia o terrível dragão, ops, bife !

( desenho de Robert Romanowicz )

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Tia Teófila, Tia Setembrina e Tia Celestina na festa de aniversário do vovô Petrônio

Chegaram com suas vozes e risadas, falavam tanto que deixavam todos meio tontos e perdidos. Tia Tenebrina com seu vestido de bolinhas e cabelos cacheados procurava nas bolsas coloridas alguma coisa esquecida, pois sempre se esquecia de tudo, a tia Setembrina com cores a estampar o rosto era toda perfumada  e a tia Celestina era a calma em tudo, mas era tão, tão calma que quase dormia em pé ou sentada.
As três tias chegaram para comemorar o aniversário do vovô Petrônio, uma festa  para dançar a noite inteira !Ele até inventou uns passinhos : dois passinhos pra lá, dois pra cá, uma voltinha, mãozinha pra cima, outra voltinha...com tantas voltinhas assim o difícil era não ficar tonto!
A tia Teófila ficou perdida, esqueceu pra que lado tinha que ir, o perfume extra forte da tia Setembrina fez todo mundo espirrar e a tia Celestina, bem, essa dormiu no sofá abraçada com a almofada. Cada uma trouxe um presente , até tia Teófila que levou um ótimo remédio para a memória , que talvez ela não tomasse já que a dela era péssima, tia Setembrina um perfume espanta-defunto e os vivos também (esse vovô guardou no fundo da gaveta ) e tia Celestina deu uma almofada de penas de ganso, super fofo. A festa ainda durou a noite toda com todas as suas voltinhas, foi a festa mais comentada do bairro Cogumelo Amarelo!

( ilustração La Torta Apetitosa - Robert Romanowicz )

sábado, 14 de janeiro de 2012

Luana



Debaixo daquelas roupas tão escuras morava uma moça de pele pálida e cabelos sempre presos, de seu rosto nunca viram um sorriso, de sua boca nenhuma palavra. Seus  olhos que ninguém sabia a cor, sempre miravam os próprios passos , quando ouvia os gritos dos moleques da rua, andava ainda mais depressa, parecia ter medo do mundo fora de sua casa, parecia tão sozinha...Ela despertava nas crianças um mistério de imaginação, algumas diziam que era uma princesa de uma terra muito, muito distante e que lá falava outra lingua e por isso ela não entendia o que eles falavam, outros imaginavam que ela era uma feiticeira que encantava crianças.Beto sabia que ela não era princesa e nem feiticeira. Um dia, quando seus passos não foram ouvidos pelos adultos, ouviu a verdade sobre Luana. Então escreveu uma carta com algumas palavras que tirara dos livros do vovô Petrônio, uma carta de amigo de verdade. Pediu á Lili que desenhasse o elefante Godofredo e seu guarda-chuva de bolinhas , fizeram colagem, fecharam o envelope e colocaram a cartinha na caixinha do correio. Quando Luana abriu aquela cartinha sentiu uma alegria no coração que há tempos não sentia, não se sentiu mais sozinha e sorriu. Dormiu e sonhou com o amor da sua vida, que também escrevia lindas cartas de amor para ela.

( ilustração - Rebecca Dautremer do livro Cyrano )

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A Princesa Severina e O Rei Sol


A princesa Severina era muito, muito linda, ela tinha um vestido branco e uma trança bem grande, ela era bem feliz com sua vida de princesa em seu castelinho de paredes brancas. Ela tinha vaquinhas, boizinhos, carneiros branquinhos e um elefante cor-de-rosa chamado Godofredo e ele tinha um guarda-chuva de bolinhas que era lindo! A princesa Severina era muito feliz com seus bichinhos e o Rei Sol era apaixonado por ela e achava que ela ficava ainda mais linda debaixo de seus raios que cobriam todos e tudo. O Rei Sol queria casar com a princesa Severina e de ciúmes não deixou mais o Deus Chuva cair , não queria que ele ficasse perto dela. Mas a princesa Severina e seus bichinhos foram ficando mais e mais cansados e com sede, a terra ficou sequinha, as árvores e os rios também e até as cores do elefante Godofredo foram desaparecendo...Aí o Rei Sol viu que a princesa Severina estava cada vez mais triste e assim ele também ficou triste e começou a chorar, a chorar , a chorar, chorou tanto que suas lágrimas viraram um temporal! A princesa Severina ficou tão feliz que começou a dançar com os bichinhos e até o elefante Godofredo com seu guarda-chuva de bolinhas dançava na terra molhada ! E depois veio o arco-íris ! e o Rei Sol vendo a alegria da princesa Severina prometeu que nunca mais ia ter ciúmes dela e que ia deixar o Deus Chuva cair pra ela e seus bichinhos ficarem felizes ! E todos foram felizes para sempre!

Fim da historinha. Para Lili ,que aprendera com o irmão Beto a inventar historinhas, elas sempre teriam o elefante Godofredo e seu guarda-chuva de bolinhas e  todos seriam felizes para sempre.Beto estava orgulhoso da irmã.


( ilustração - Rebecca Dautremer )

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Os inalcançáveis livros do vovô Petrônio


Os pés equilibrados em cima do banquinho tamborilante se espichavam fazendo o corpo de Beto crescer além de seus braços, que se esticavam com esforço fazendo os dedos roçarem naqueles livros tão inalcançáveis do vovô, aqueles benditos livros de poesia, ali tão lindos e tão longe de seus dedos de criança. Naquele momento Beto descobria as vantagens de ser gente grande, seria tão mais fácil...Queria um livro de poesia  porque ouviu dizer que lá moram as palavras de amor, aquelas que encantam os corações apaixonados,que fazem as pessoas suspirarem e ficarem com cara de sonho e de bobas, mas Beto que se dizia muito esperto , não estava apaixonado,queria apenas a inspiração emprestada dos  livros de poesia do vovô, apenas assim para escrever uma carta de amizade, sim, de amizade para Anita porque ela era delicada e meninas assim gostam de palavras delicadas e elas viviam todas ali, nos inalcançáveis livros do vovô Petrônio que quando moço escreveu muitas cartas de amizade para a vovó Filomena.

( ilustração Benjamin Lacombe )

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

o mistério da sombra atrapalhada


Acordaram com o barulho de coisas caindo, rangido de portas abertas, passos tropeçando no corredor escuro. Lili abraçada ao irmão pensava se não era o elefante Godofredo com seu guarda-chuva de bolinhas passeando pela casa. Desde que Beto contara a historinha maluca do elefante Godofredo ela nunca mais o esquecera e naquela noite de vento brincalhão, imaginava que o elefante estivesse lá na casa dela, fazendo uma visitinha. De mãos dadas com Beto foram até a porta espiar a sombra que saía da cozinha dando cabeçadas na parede e falando sozinho coisas que ninguém entendia. A sombra atrapalhada foi até a sala e lá ficou, mastigando biscoitos de polvilho , croc, croc, croc ! De pé em pé, andando contando passos e tentando acalmar o coração chegaram á sala, acenderam a luz e ...surpresa ! A sombra atrapalhada ( e fominha ) era o vovô fazendo um lanchinho em plena madrugada ! Beto e Lili deram muita risada mas ela bem queria que fosse o elefante Godofredo fazendo uma visitinha...


( ilustração Benjamin Lacombe )

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A Delicadeza de Anita


Enquanto dançava seus pés pareciam nem tocar o chão,sua saia rodopiava e fazia ondas coloridas a sua volta, os braços se abriam em abraço e as mãos pequenas tentavam tocar o céu, os pés em suas pontas a deixava quase alta, os dedos fininhos a desenhar movimentos delicados, seus cabelos soltos se espalhavam e Anita parecia estar em outro mundo, dizia que talvez Anita dançasse na Lua com as estrelas, tão leve eram seus passos e movimentos, Anita era a delicadeza em pessoa, em menina, uma flor. E essas qualidades delicadas de Anita era o que irritava Beto, isso era o que ele dizia, que menina assim tão delicada poderia se quebrar , se partir como um cristal e ele não tinha cola para colá-la depois, que ela era tão leve que se o vento a levasse ele não teria forças para trazê-la de volta e que ela só sabia dançar e nas brincadeiras de meninos isso não servia pra muita coisa. Beto tinha uma lista infinita de coisas impossíveis que Anita não poderia fazer, mas sempre que ela aparecia ele ficava bobo e toda aquela infinita lista voava com o vento e o que ficava era só a delicadeza de Anita.

( ilustração Rebecca Dautremer )

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Vento

O vento que entrava pelas janelas trazia as folhas do outono que aos poucos foram cobrindo o chão como se fosse um tapete , os móveis, a mesa com os talheres ainda frescos do café da manhã,  os cabelos despenteados das crianças. Anita achava essa festa do vento uma delícia,  achava que o vento gostava de brincar com seus cabelos , adorava ver a bagunça que ele fazia no penteado da mamãe , que sempre tentava colocar os cabelos em ordem, mas o vento entrando travesso pelas janelas e portas abertas não deixava, era impossível !Então ela desistia e acabava também se divertindo, e sua risada bonita se espalhava pela sala e todos, descabelados, riam das estripulias do vento. As flores coloridas e seus perfumes também entravam e até a moça que cuidava da limpeza da casa desistia , pois a cada tentativa as flores e folhas rodopiavam , dançavam no ar, e acabavam pousando novamente no chão, nos móveis. Era sempre assim as manhãs na casa de Anita, o vento a fazer-lhe a visita de sempre, depois que ele ia embora ficava a brisa suave a pousar no ar, e vinha a calma, então as folhas e flores eram varridas, os cabelos penteados novamente, as risadas guardadas nas palmas das mãos. E tudo começava depois que o vento ia embora, as conversas dos adultos, as brincadeiras das crianças.

( ilustração Rebecca Dautremer )

domingo, 8 de janeiro de 2012

O Elefante Godofredo

Godofredo era o elefante mais sério da floresta, vivia de cara de pouquíssimos amigos, não gostava de conversar com os outros animais, os outros com medo daquela cara de dor de dente nem se aproximavam dele, então Godofredo ficava sozinho, sozinho ele inventava histórias e contava-as para as estrelas, para a lua cheia , dormia e sonhava com suas histórias coloridas. Um dia andando pela floresta  ele encontrou um palhaço perdido, sim! um palhaço perdido na floresta! O palhaço vestido de roupas coloridas nem se assustou com a aparição de Godofredo, na verdade estava cansado de ficar sozinho pois a turma do circo o esquecera ali , com sua peruca azul e seu nariz vermelho. Piteco tinha uma maleta e uma bolsa que parecia um mistério e debaixo daquele céu quente abriu um enorme guarda-chuva de bolinhas,ele sozinho já era uma novidade! Piteco sorriu quando viu Godofredo. Era o primeiro sorriso que Godofredo ganhava na vida! Mas Piteco , o palhaço de peruca azul e nariz vermelho, achou Godofredo cinza demais então abriu sua misteriosa bolsa e de lá saíram muitas cores! Godofredo ficou super cor-de-rosa, super lindo ! Godofredo ficou feliz e aprendeu a rir, ficou amigo de Piteco, que antes de ir embora com sua turma atrapalhada deu seu guarda-chuva de bolinha. Agora Godofredo era o único elefante cor-de-rosa com guarda -chuva de bolinha da floresta. Ganhou amigos, e viveu feliz para sempre!


Beto fechou o livro, fim da história. Lili , a irmãzinha, achava suas histórias muito loucas, mas eram divertidas e ela as adorava! Foi dormir sonhando com o elefante Godofredo  e o palhaço Piteco.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O Baú Encantado da Vovó


Abriu aquele baú como se estivesse abrindo um segredo, com um cuidado para que o rangido dos parafusos não despertasse a atenção da vovó, que sempre guardara naquele baú sabe-se lá que mágicas ! sabe-se lá que mistérios ! Imaginava coisas incríveis saindo daquele baú, talvez um mistério bem grande! um dragão encantado, ou um sapo estampado ? Beto tinha uma imaginação que crescia mais rápido que ele, e enquanto abria aquele baú , sua imaginação foi desenhando mundos que talvez nem coubessem lá dentro. E quando por fim conseguiu abri-lo nada de muito mágico aconteceu, nenhum dragão apareceu, nenhum sapo estampado surgiu...olhou e na escuridão que morava lá dentro suas mãos encontraram algo macio e cintilante: eram roupas, fantasias de bailarina , pierrôs, palhaços, chapéus, um violino, uma flauta, flores de plástico adormecidas, e quanto mais suas mãos cavavam mais encontravam cores e texturas novas! Sim, lá dentro existia outros mundos! Ah que alegria ! Então vestido de palhaço, convidou  a vovó e o vovô a participarem da brincadeira,  ela vestida de bailarina cor-de-rosa tocava a flauta e o vovô de pierrô apaixonado tocava violino, enfeitaram a casa com as rosas de plástico, inventaram uma festa, inventaram a alegria e brincaram tanto que até esqueceram da chuva que caía lá fora.

( ilustração Rebecca Dautremer )

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O Primeiro Concurso de Histórias Rimadas do Bairro Cogumelo Amarelo


Dizia que ele tinha amizade com as palavras, era tanto sua paixão por elas, que Beto as guardava em diários secretos, dentro de cartas com planos mirabolantes de como construir um balão colorido, dentro de baús de brinquedos espalhados no quarto. Tanto amor assim fazia Beto falar bonito, a inventar histórias incríveis, a falar rimado, é...e Beto inventou que falar rimado era muito mais divertido ... e saía por aí falando as palavras casadas que formavam frases engraçadas,ops, até eu estou falando rimado!
A brincadeira se espalhou pelas ruas como poeira , e as crianças criavam histórias em que as palavras rimavam e saía cada uma mais engraçada que a outra!
A bailarina que de tanto rodopiar, via tudo rodar, o cachorro malhado que estava todo enrolado com esparadrapo mas ele não estava machucado ele era atrapalhado ( ufa ! ), o gato amarelo que só comia farelo e tantas outras historinhas com palavras rimadas inventadas pela turma do Beto que para encontrar mais e mais palavras novas começaram a ler muitos livros, e eles aprenderam  a amar e  admirar as palavras,  a se encantar com elas, sempre. E foi então que nasceu o Primeiro Concurso de Histórias Rimadas do Bairro Cogumelo Amarelo que com certeza é o lugar onde moram as historinhas mais malucas do mundo!

( ilustração Rebecca Dautremer )

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