terça-feira, 27 de março de 2012

um BaLÉ engRAçaDO


O vento levou o lenço colorido da vovó Filomena. O lenço rodopiava no ar, se contorcia , se espalhava ,  abria suas estampas no ar. O vento brincava com o tecido fino do lenço colorido da vovó Filomena, dançava com ele lá em cima, viajava pelos galhos das árvores, nos telhados da casa , pelo sono do cachorro Filósofo. O lenço voava com sua cor amarela e flores vermelhas, brincando com a vovó que ficava na ponta dos pés tentando pegá-lo com os dedos finos esticados no alto. Vovô Petrônio ria da brincadeira do vento e do balé desajeitado da vovó Filomena que de cabelos soltos e bagunçados não achava graça nenhuma mas logo também começou a rir, porque o seu lenço já não estava mais sozinho: agora estava acompanhado do chapéu do vovô Petrônio, os dois dançavam juntos : o chapéu e o lenço. O chapéu  dava piruetas fantásticas no ar, vovô Petrônio  tentava pegá-lo e segurando o cabo da vassoura tentava pescá-lo , mas o chapéu travesso sempre fugia. O vento também trouxe a música dos discos empoeirados da vovó Filomena, era o que faltava para aquele balé engraçado ficar completo. A música tocava embalando a dança do lenço e do chapéu . Embalava a dança engraçada da vovó Filomena e do vovô Petrônio. Enquanto isso o cachorro Filósofo sonhava.


( ilustração Rebecca Dautremer )

segunda-feira, 12 de março de 2012

ela É o meu SOl


Há dias o vento não brinca , as folhas caem moles no chão quente, a brisa tão delicada não consegue afastar o calor que  parece cozinhar a carne da gente, e lembrei daqueles filmes onde os índios cozinhavam os brancos , bem, tentavam porque eles sempre conseguiam fugir e eu nunca vi como era preparado aquele cozido...Os dias estavam  muito quentes, a vovó Filomena prendia os cabelos em lenços coloridos, cada dia usava um, seus cabelos ficavam presos no alto da cabeça parecendo um bolo de aniversário, dizia que era para o vento soprar gostoso na nuca, e eu achava engraçado essa frase da vovó, vovô Petrônio usava as calças arregaçadas, deixando as canelas finas à mostra, os pés ficavam esparramados nas chinelas de borracha, suava em bicas mas não usava lenços coloridos para prender os cabelos, ainda bem, senão acharia muito estranho, Lili , minha irmãzinha , ficava debaixo de seu guarda-chuva mágico e dizia que ali o sol não seria convidado, ficaria sempre pra fora do seu esconderijo, sem contar que ali todos ficavam transparentes, esse é o poder mágico do guarda-chuva da Lili, mas já fiquei ali e ainda não sei como é ser transparente...mamãe ainda consegue me enxergar para dar bronca. Nesses dias de sol reinante nem papagaio Funéreo canta o fim do mundo de tão desanimado que fica, Bartolomeu , o gato , só falta tomar banho de chuveiro e o cachorro Filósofo continua dormindo, como sempre...assim como meu coração que sempre que está perto de Anita  desperta, estremece , amolece. Ela é o meu sol.


( ilustração Nicolas Gouny )