segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A primeira Carta de Amor


Assim de longe o que via era apenas Anita ouvindo as palavras de gestos grandes daquele menino sentado ao seu lado, vestido com roupas assim elegantes e finas, cabelos penteados impecavelmente, e ele fazia Anita rir e ela sempre a olhar o chão e cruzar os dedinhos finos, distraindo os olhos claros. O menino de maneiras educadas e que pelo jeito não escrevera nenhuma lista de coisas impossíveis que Anita não sabe fazer, a distraia com uma conversa cheia de gestos grandes e aéreos e ela parecia bem feliz ali, ao seu lado. O menino de roupas alinhadas era o mais novo vizinho do bairro, chegara num belo carro e estava morando na bela casa que há tempos estava vazia de risadas. Chegara e já estava ali conversando com a "sua" Anita e isso deu a Beto uma sensação estranha, uma quase dor, uma vontade de chorar ou de bater naquele arrumadinho, ainda não sabia o nome do que estava sentindo, mas era ,sim, muito desagradável e dolorido. Amarrotou com toda a força a carta e esmagara todas as palavras que tinha encontrado nos livros do vovô Petrônio. A  sua primeira carta de amor, ou de amizade, como ele teimava em dizer.

( desenho - Rebecca Dautremer )

Nenhum comentário:

Postar um comentário