Severina sentia a água debaixo dos pés pequenos e ria. Pela primeira vez , sentia a emoção da água na pele queimada de sol e achou a sensação de pele molhada uma frescura de gostoso. Severina olhava os pezinhos na água adormecida nas poças de terra molhada e achava que a água fosse viva, a brincar de escorregar entre seus dedinhos, a fazer cócegas na sola dos pés, a deslizar na pele em gotas tão pequenas. Severina estava encantada com a água caída do céu em grandes lágrimas de chuva. Nunca tinha visto tantas lágrimas assim, nem no rosto da mamãe que vivia olhando o céu azul do Rei Sol. Severina pulava de poça em poça, a desenhar na terra molhada suas pequenas pegadas, queria esparramar pegadas de barro por todos os cantos do MUNDO! Fazer desenhos de água nas paredes da sua casinha branca. Dar banho no cachorro Banzé, mas talvez ele não achasse essa ideia assim muito boa, afinal de contas, Banzé só tomava banho de poeira...e estava muito assustado com essa água toda caída do céu, mas brincava, porque adorava ficar perto de Severina.
Severina achava a chuva um mistério, como tantas gotinhas nasciam assim? Imaginou que elas fossem as lágrimas do Rei Sol, talvez ele estivesse triste.Talvez estivesse apaixonado de amor. Mas esse já é outro mistério que a Severina não quer resolver. Ela só quer brincar de ser feliz !
( ilustração - Simone Matias )