segunda-feira, 3 de março de 2014

a memória do vovô




Eu não sei para onde vai a memória do vovô. De vez em quando ela sai para passear e deixa ele sozinho no meio de uma história que está contando. Ele fecha os olhos, aperta os dedos e tenta espremer as ideias de dentro da cabeça, e depois de muita procura e de nada achar ele diz: a memória me fugiu, não me lembro...E então a história fica com um buraco e aí ele começa outra história que vai ter outro buraco no meio.
Também esquece onde guarda os óculos, os livros, as chaves. E para isso teve uma ideia que ele achou ótima : não guarda mais nada, deixa tudo esparramado: na mesa, na cadeira que fica na varanda e até na piscina encontramos seu óculos boiando.
A memória do vovô também  adora sumir quando ele vai cumprimentar alguém e como o nome não vem, ele manda aquele que ele acha mais bonito, aí a pessoa olha meio estranho, o vovô finge que não percebeu nada, estende a mão, dá um abraço e vai embora todo sorridente.
Quando vai fazer as compras da vovó é ainda pior, teimoso como é não quer anotar as coisas que tem que comprar , tem certeza que a memória precisa ser exercitada, mas preguiçosa do jeito que ela anda, nunca dá certo e quando ele volta do mercado cheio de frutas e doces e nada de arroz e feijão, vovó não acredita mais em memória fraca e fica bem brava com ele. Mas ele nem liga e fala que ela não sabe ver as coisas engraçadas da vida.
Meu avô é uma delícia! Ele esquece muitas coisas, mas nunca esquece de ser educado, de ser divertido e de ser feliz. Isso ele diz que não vai esquecer nunca. Espero que não.

ilustração Juan Faria :http://biblioabrazo.wordpress.com/2011/06/16/un-cesto-lleno-de-palabras-juan-farias/

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