domingo, 5 de abril de 2015

A Cidade Escura


Existe uma cidade que é totalmente escura, que dorme numa noite infinita sem lua e sem estrelas. Uma cidade que de tão pequena não tem nem nome, e que ficou conhecida apenas como A Cidade Escura. A única coisa branca que existe na Cidade Escura são as nuvens transparentes de neblina, que descem a horas certas nos telhados das casas, nos sinos das igrejas, nos campos de flores e nos cabelos das moças solteiras. Quando a nuvem branca chega, todos já sabem que são horas de dormir, porque o dia seguinte será outro sem luz, sem cores.
São  infinitas noites sem lua, onde todos tem a mesma hora de dormir e acordar, Adivinham a hora de despertar pelo vento frio que entra pelas frestas das janelas, sussurrando "levanta,levanta", fazendo cócegas com seus sopros gelados, provocando até os mais preguiçosos a sair da cama quentinha.
As folhas entram pelas janelas , pousam na mesa, entram nas xícaras de café. É outro dia que começa.
As pessoas que vivem na Cidade Escura não são tristes por não conhecerem o sol e seus desenhos de sombras. Desde sempre se acostumaram com as sombras da noite, porque elas mesmas se transformaram em sombras. Se conhecem pelas vozes, pelos sons dos passos, pelas risadas. Não se preocupam muito com a combinação de cores ou se a vestimenta é bonita ou feia, na escuridão, são todos iguais. As moças gostam de sair com seus cabelos soltos ou de deixá-los serem despenteados pelas brincadeiras do vento. Se apaixonam pela voz do amado. Eles, por sua vez, gostam da maciez das mãos das amadas.
As crianças brincam de correr atrás de sombras ou de encontrá-las em esconderijos secretos.
Mas um dia, um cometa rasgou o céu. Um risco inteiro e dourado a cortar o céu escuro.Todos os olhos colados naquele imenso risco desenhado por um cometa.
E pela primeira vez viram outras cores,viram como são feitos os sorrisos, de como são feitas as lágrimas.

O cometa foi embora e trouxe a escuridão de volta. Mas nada seria como antes. Nunca mais.






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