sexta-feira, 12 de setembro de 2014

o segredo do vento


a primeira carta que Anita recebeu tinha tantas  rugas  e dobrada em tantas partes, que parecia um origami. Abriu-a com a ponta dos dedos finos, com o cuidado de uma médica de cartas machucadas. A cada vez que a desdobrava, tinha a impressão que desmanchava um pássaro de papel. Quase desistiu, mas a curiosidade a cutucava, cochichava nos seus ouvidos : abre, abre...
As palavras eram tão pequenas , cortadas pela linha da dobradura, que era quase impossível lê-las, mas Anita não tinha pressa de desvendar aquele segredo. Lia cada uma com a atenção que elas mereciam, depois de tanto tempo dobradas daquele jeito, porque pela data já fazia um bom tempo que aquela carta havia sido escrita.
Leu seu nome escrito com todo o cuidado, a linha fininha desenhando as letras de forma toda redonda. Parecia letra de menina, daquelas que desenham flores nas beiradas do caderno. Mas aos poucos as palavras lidas diziam que não era bem isso...aquela carta, trazida pelo vento e toda machucada por tantas dobraduras , era uma carta de amor!
Sentiu pena da pobre carta, que parecia ter viajado muito até achar sua janela aberta e ir entrando, trazida pelo vento. Não tinha nome, mas  uma poesia com palavras rimadas, que era inteirinho para ela, Anita.
                                                                     Anita bailarina
suave como o vento
tento disfarçar meu jeito
mas quando te vejo
fico em total desespero
 que saio correndo
porque meu coração 
é todo seu...

O vento fez bem o seu trabalho, trouxe a carta para Anita, e de segredo entendia, porque o nome do poeta, ele não ia falar...






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