sábado, 23 de maio de 2015

o barulho do coração



Já fazia algum tempo que Beto estava ali, no alto da árvore, os pés suspensos no ar, soltos e invisíveis para quem estava ali embaixo. Ninguém tinha a curiosidade de olhar para cima, nem para as nuvens ou para a despedida do sol nas tardes de chuva. As pessoas andavam sempre apressadas andando com a cabeça baixa, ou distraídas demais para repararem que acima delas tinha um menino se escondendo de sua própria timidez. Não desconfiavam de nada, não tinham tempo para isso...
Beto tentava adivinhar os pensamentos de Anita quando lesse a sua carta, seu poema escrito numa noite de lua cheia. O que Anita ia pensar, será que ela tinha gostado? E como ela saberia que foi ele que escreveu aquela carta? Não teve coragem de assinar, aí, essa timidez que atrapalhava tanto a sua vida de enamorado...
Ficou ali, vendo as pessoas andando de um lado para o outro, os amigos perguntando por ele, os cachorros latindo, os velhos jogando dominó e...no meio disso tudo, Anita! De repente o silêncio veio e não se ouviu nenhuma voz, nem o latido dos cachorros, nem os gritos dos moleques. Só o coração de Beto batia, e esse era um barulho só , imenso, que o mundo inteiro estava ouvindo.
Anita estava no centro daquele mundo, e tudo de repente estava suspenso no ar, e então ela olhou para cima. E pela primeira vez Beto sentiu medo de altura.
Não foi o vento que contou o segredo de Beto. Anita sempre soube a resposta.